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  • Bruno Padilha

Jovens paranaenses, vocações e equívocos


“Num livro já antigo, Wilson Martins escreveu que o Paraná era "um Brasil diferente". Tenho comprovado isso, repetidamente, desde que comecei a dar aulas neste Estado, dois ou três anos atrás. Os brasileiros de hoje são tagarelas e preguiçosos: não estudam nada e opinam sobre tudo. Os estudantes paranaenses são notavelmente mais humildes e interessados em aprender. (...)

Humildade significa, no fundo, apenas senso do real. O culto universal da juventude obscureceu essa verdade óbvia ao ponto de que todo mundo já acha natural esperar que, aos quinze ou dezoito anos, um sujeito tenha opiniões sobre todas as coisas e, miraculosamente, elas estejam mais certas que as de seus pais e avós. O resultado dessa crença generalizada é desastrosa: todos os movimentos totalitários e genocidas dos últimos séculos -- comunismo, nazismo, fascismo, radicalismo islâmico, etc. -- foram criações de jovens, e sua militância foi colhida maciçamente nas universidades.

O culto da juventude traz, como um de seus componentes essenciais, o desprezo pelo conhecimento: se ao sair da adolescência o sujeito já traz na cabeça todas as idéias certas, para quê continuar estudando?

No Brasil, esse preconceito arraigou-se tão fundo, que já parece impossível extirpá-lo. O efeito disso é que milhões de jovens, incapacitados para perceber as mais óbvias realidades, se crêem investidos do direito divino de julgar todas as coisas (...) Tenho me defrontado com esses tipos no Brasil inteiro, mas garanto: entre os estudantes paranaenses o número deles é bem menor.

Não sei como explicar esse fenômeno.(...)” (Jovens paranaenses, 2003)

“Se você escreve, ou pinta, ou faz sermões na igreja, ou toca música, ou monta a cavalo, ou tira fotos, ou faz qualquer outra coisa que pareça interessante, já deve ter ouvido mil vezes a pergunta: "Você faz isso por dinheiro ou por prazer?" (...) O que está omitido na pergunta acima é a possibilidade de que alguém se dedique de todo o coração a alguma coisa sem ser por necessidade econômica nem por prazer (...) – é aquilo que se chama vocação. Vocação vem do verbo latino voco, vocare, que quer dizer "chamar". Quem faz algo por vocação sente que é chamado a isso (...) A realização superior do homem na vocação é então substituída pela mera busca do emprego, visto apenas como meio de subsistência e sem nenhuma importância própria no que diz respeito ao conteúdo. (...)

A adaptação conformista a um emprego medíocre e sem futuro é considerado o máximo do realismo, a perfeição da maturidade humana. Tudo o mais é depreciado (...) como "diversão". Assim, entre o trabalho forçado e a diversão obsessiva (...), acumula-se na alma do brasileiro a inveja e uma surda revolta contra todos os que levem uma vida grande, brilhante e significativa, sobre os quais, mesmo quando são pobres, paira a suspeita de serem usurpadores e ladrões, pelo menos ladrões da sorte. Daí a famosa observação de Tom Jobim: "No Brasil, o sucesso é um insulto pessoal." Sim, nesse meio não se compreende outra lealdade senão o companheirismo dos fracassados (...). Este é um país de gente que está no caminho errado, fazendo o que não quer, buscando alívio em entretenimentos pueris e desprezíveis, quando não francamente deprimentes.” (Vocações e equívocos, 2000).

Em “jovens paranaenses”, não há distinção entre quem nasceu no estado do Paraná (ou na “República de Curitiba”), mas sim quem faz parte de uma cultura, de um ambiente geral onde há uma maior propensão para o desenvolvimento estudantil, intelectual e cultural. “Vocações e equívocos” traz uma relação entre aspectos culturais brasileiros e anseios psicológicos individuais, o que também é de grande valia para quem está na fase da vida de estudante universitário, embora possa se refletir sobre isso em qualquer momento da vida. O ideal seria ler os dois textos inteiros, ambos estão disponíveis na internet, mas os trechos selecionados já podem ao menos provocar uma reflexão. Os textos se relacionam e se adequam em nossas realidades, mesmo tendo sido feitos em épocas diferentes e sobre assuntos teoricamente distintos.

Bruno Padilha

Pedagogia - Opet

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