top of page
  • Nicksson Baracy

Pão da vida


“Pão da vida”: será esse um texto do Departamento de Pastoral ou do Departamento de Alimentação? Ficou curioso? Bem, o pão é sem dúvida um alimento essencial para qualquer povo. Desde os primórdios da raça humana, o pão tem sido fundamental para que uma civilização consiga ficar de pé diante de guerras, eventos cataclísmicos e crescimento populacional. Mas o que gostaria de frisar é como o pão era um alimento importante para o povo hebreu e judeu.

Nas escrituras hebraicas, em Êxodo 16:1-15, é narrada uma passagem interessante. Deus no Antigo Testamento havia prometido a José no Egito, que iria libertar o seu povo por meio de um libertador que ele mesmo levantaria. Esse libertador foi Moisés, Moisés foi aquele que Deus escolheu para libertar os hebreus da escravidão e opressão do Egito. Durante o Êxodo dos hebreus no deserto, durante diferentes momentos, os hebreus reclamavam com Deus que tinham sido libertados da escravidão do Egito para morrerem no deserto, já que estavam impossibilitados de viver da agricultura ou do alimento que os egípcios lhe davam. Diante dessa situação, Deus enviou algo dos céus, um alimento que eles desconheciam, a esse alimento chamaram de “Maná” que significa “O que é isto?”. Moisés então disse ao povo que esse maná era o pão que o Senhor havia dado para o povo comer. O maná que Deus havia dado ao povo, segundo o livro de Êxodo, não era ilimitado, não, ele era diário. Com exceção da sexta-feira, onde era tirado um pedaço a mais para se guardar para o sábado, havia o pão do céu, ou, o maná de cada dia.

Muito tempo depois, na cidade de Cafarnaum, cidade que ficava ao norte do Mar da Galileia, Jesus Cristo trouxe certo ensinamento ao povo que o estava seguindo e contemplando seus sinais miraculosos. As pessoas que o seguiam naquele momento eram pessoas que tinham presenciado o milagre da multiplicação dos pães e peixes e souberam da cura de um homem que fora paralítico há 38 anos. Estas pessoas ficaram maravilhadas com os sinais e prodígios que Jesus estava realizando, mas elas esperavam do Messias um libertador político e não um libertador espiritual. Em certa ocasião, depois de um milagre, elas tentaram fazer Jesus rei à força; este, no entanto fugiu, pois sabia que ainda não era chegado o seu tempo.

Estas eram as pessoas a quem Jesus se referia, quando disse a declaração mais esquisita possível, se ouvida sem reflexão e meditação: “Eu sou o pão da vida!” (Jo 6:48) e “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6:51). Jesus, de uma maneira singular, dá outro sentido ao termo “Pão da vida”, o pão da vida que Cristo dá, é a sua própria vida na cruz do calvário, o justo morrendo pelos injustos, e como diz em João 3:16: “Porque Deus amou tanto o mundo que deu o seu único filho para que todo aquele nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”. Esse filho que nos é dado, é o pão da vida, é o alimento espiritual que dá vida a nossos corpos mortais. Mas ele continua ainda com ditos ainda mais esquisitos a primeira instância: “Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim”, João 6:53-57.

Neste último trecho vimos Cristo dizendo-nos que se não comermos a carne do Filho do homem e não bebermos de seu sangue nós não teremos vida em nós mesmos. Seria essa carne e sangue literais? Estaria Jesus Cristo ensinando-nos ou conduzindo-nos ao vampirismo ou a licantropia? Não, isso sem dúvida foi pensado e divulgado pelos inimigos do Cristianismo, mas obviamente ele se referia a algo simbólico. Simbólico, mas não menos real, as escrituras sagradas nos dizem que “Todo aquele que está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas passaram e tudo se fez novo”. Estar em Cristo, se alimentar do pão vivo que desceu do céu, é receber o sacrifício de Jesus na cruz, é reconhecer que somos pecadores e que sem Ele, estamos mortos em nossos pecados. É também se relacionar com Jesus, assim como um ser vivo não consegue viver sem alimentar-se de certa maneira, assim também, sem Cristo, estamos mortos em nós mesmos, para com Deus e para com o mundo.

Que possamos meditar sobre as palavras de Jesus, palavras que segundo ele mesmo, são palavras de vida e poder. E assim como disse o Apóstolo Pedro quando confrontado por Jesus se assim como os demais seguidores, queria também ir com eles e o abandonar, ele nos surpreende com uma resposta simples, mas verdadeira: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna”.

Nicksson Baracy

Filosofia - UFPR

bottom of page