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  • Mateus Prazeres

Carta de Prazeres ao Ceará


Escrever um texto nessa ocasião para um amigo não é nada fácil. Das maratonas de redação na escola, nunca imaginei que em pouco tempo teria que escrever a redação mais difícil da minha vida. Cearense, longe de casa, sem dinheiro para voltar, engenharia, mesmo curso, mesma casa, mesmos ideais.

Todos irão lembrar da sua alegria, simplicidade e inteligência, o que eram qualidades extraordinárias mesmo. Por isso, venho lembrar de seus ideais. Porque moldamos nossa personalidade para sermos e fazermos aquilo que acreditamos. Os seres humanos costumam chamar isso de caráter.

Ajudar as pessoas. À medida que sua capacidade ia lhe permitindo. Isso era o que Eduardo perseguia. Seu interesse na ordem Demolay era tão grande que não faltava em nenhuma reunião e chamava quem pudesse para aliar-se a ele. Dos que eu conhecia, Darlen já fazia parte e acabou levando o Luis também. E sempre, do seu jeito, sutil, me convidava a ir visitar a ordem, mas como não tinha muito tempo e não gosto de muitos formalismos como vestir preto toda semana acabava sempre não aceitando e o indagando pelo seu tamanho compromisso quanto a isso.

Acredito que você conhece uma pessoa ao máximo quando consegue enxergar o seu coração e entender os seus sonhos, seus ideais. Você começa a entender o sentido de cada passo dado. Nas férias, poucas pessoas ficaram na casa, eu praticamente me mudei para o 114. Tínhamos que discutir o que fazer para almoçar no dia seguinte. E de conversa em conversa, começamos a discutir sobre o alimento da alma, o que fazer para crescermos fartos no futuro, e então fui descobrindo o plano que ele tinha traçado. Se tornar Engenheiro, brincávamos que se fosse milionário não seria mal problema e, com uma condição melhor, poder ajudar mais pessoas à sua volta.

“Você acha que a gente veste preto e se reúne para fazer pacto com o capiroto?! Oxente! Hahaha. Nos reunimos para ajudar pessoas, instituições, causas que lutam por um mundo melhor. Seguindo o exemplo de Cristo, em que se ajuda que sem precisar de holofotes, sem aplausos, porque se é feito pelo próprio intuito de ajudar, é para isso que reunirmos. E quando crescer, quero comandar aquilo, é difícil, são muitas hierarquias, mas o mais alto que eu puder ir, eu irei.”

Quando se conhece o sofrimento, a dor de alguém, você sorri. Sim, isso mesmo. Para amenizar a dor de quem passou e para agradecer por não ter passado pelo mesmo, deixa de reclamar da vida porque alguém sempre irá sofrer mais que você. “Rir é o melhor remédio”, não? E isso contagia todos que estão à sua volta. Ver e conviver com o simples te torna simples, humilde, te ensina a dar valor a vida, a dar valor as pessoas. E dar valor as pessoas é mostrá-las que elas estão vivas e você está ali com elas. A melhor forma de mostrar isso? Dando um abraço ou se escorando mesmo. É, ficar abraçando 80 homens quase todos os dias não fazia muito o tipo dele. Quando se é humilde você entende o sentimento de alguém, mesmo sendo esta tão diferente e, tenta ajudá-lo de qualquer forma, a benevolência fixa no seu coração como uma raiz de pé de caju.

Entender o mundo a sua volta, te torna inteligente, aos poucos tudo começa a fazer sentido. Experiências, análises, conclusões. Seu raciocínio começa a funcionar de uma forma diferente. E como todo processo de trabalho, queremos chegar a um produto final. Para nossa vida isso se chama realização. É preciso ter metas, traçá-las e descobrir os melhores caminhos para alcançá-las, resumindo, ter foco, uma motivação. E ele tinha a mais sublime de todas. Imagino que em cada cálculo, problema de física, essa vontade de ajudar alguém vinha junto, por isso ele era tão bem sucedido naquilo que fazia.

Dos dez mandamentos, Cristo os resumiu em dois: “Amar a Deus acima de todas as coisas.”, e “Amar ao teu próximo como a ti mesmo”. E ele seguia isso à risca, quieto, do jeito dele.

Então faço das palavras de Cristo as minhas também, em que Santo e cumpridor dos mandamentos acima, disse para não tratarmos como Senhor, mas sim como amigo, como um irmão. Um irmão que teve uma passagem breve nesta Terra, ajudou as pessoas, cumpriu sua missão, se foi e nos deixou um legado, para sempre.

Mateus Prazeres

Eng. de Controle e Automação - UTFPR

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