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Rashane Rohan Thomas & Lucas de Oliveira

"Se crescer é preciso!"


Ele é influente, ele é um menino que veio para o Brasil estudar “odonto”, e ele é jamaicano. Ele vem trazer um pouco da cultura do país dele através da culinária, sendo diretor de alimentação aqui na Celu. Hoje eu vou conversar com ele. Vem para cá, Rashane.

Você tem um nome bem diferente, me explica um pouco a origem do teu nome, Rashane.

Eu não sei. A origem não sei, porque eu nunca olhei para esse aspecto no nome.

Que conformado você...

Eu acho um nome bem bacana. Aí eu não precisava saber de onde veio e ... Porque se você um nome zuado eu ia trocar, eu ia mudar. Mas...

Entendi. Eu vejo que seu sorriso está diferente. Você fez alguma coisa?

É um sorriso metálico, né? Eu recentemente coloquei aparelho. Está me matando, mas sem dor nada vai mudar.

Você se sente na pele de seu cliente?

Não. Quer dizer, na pele do meu paciente, sim. Se eu pudesse, arrancaria tudo. Mas não tem como. Sem dor, não vai mudar!

Você dá de comer aos meninos da Celu, não é?

Faz parte, né!?

O que consiste, o que faz o diretor de alimentação?

Tem que ser um rapaz que sabe comer bem e que sabe alimentar o povo também.

Você está aqui já faz três anos Rashane, qual a maior diferença entre a vida na Jamaica e a vida no Brasil?

Para mim não tem tanta diferença assim. Porque quase todas as coisas que eu fazia na Jamaica eu estou fazendo aqui. E eu sou uma pessoa mais caseira assim, sabe? Eu não gosto de sair muito. Então para mim não faz muita diferença.

A questão da cultura brasileira, você já conhecia? Você se surpreendeu com alguma coisa?

Olha, eu não conhecia quase nada sobre o Brasil. Não tinha expectativa, não tinha nada quando estava vindo para cá, eu vim com uma mente mais aberta. Para ver o que tem e o que eu posso aprender, mas outras pessoas não. Eles falaram que tinha mais “índio” aqui, muito mais favelas. E daí tinha gente que dizia “Ah, fica longe das favelas. Fica longe das mulheres que vão te levar para as favelas”. Não sei...

A gente tem uma perspectiva também pouco embasada sobre a Jamaica. Você gosta de Bob Marley?

Eu? Não gosto muito não...

I wanna love you...

...and treat you right. Isso aí também. Tem um povo que pira para Bob Marley, mas eu não, para mim não. Para mim é como qualquer um.

Entendi. Você veio e acabou vindo morar aqui na Celu, uma casa de estudantes. Um espaço coletivo de pessoas. Por que você escolheu não morar em apartamentos, por que você veio parar na Celu?

Porque eu sou bem pobre, né? Mais pobre que eu não existe, eu acho. Mas se eu pudesse, eu moraria em um apartamento. Porque olha, uma coisa é morar sozinho, outra, dividir espaço. Dividir espaço é a coisa mais difícil do mundo, porque às vezes chega pessoas para morar com você que tem ideias diferentes de você. Que as vezes, talvez, seja mais sujo que você. Sobre deixar o quarto limpo e essas coisas. Daí é muito difícil de lidar com outras pessoas.

Mas isso não é normal da sociedade em geral? De qualquer sociedade?

É bem normal. Bem normal. Por isso que eu falei, se eu tivesse como escolher, eu escolheria morar sozinho.

Você disse que é bem pobre. Mas recentemente você esteve nas redes sociais postando fotos em diversos lugares do Brasil, eu quero que você explique essas histórias, como foram essas viagens?

Olha... essa é uma história em que eu não vou entrar. Por que tem “outras fins”, sabe? “Muitas outras fins...” porque eu sou pobre, mas estou namorando alguém que é muito mais rico do que eu. Mas o dinheiro é dele, não meu.

Entendi. Mas que lugares você passeou e conheceu aqui no Brasil?

No Brasil? Não muitos. Deixa eu ver... Brasília, Rio de Janeiro, Floripa, Curitiba. Não sei, eu acho que é só isso.

Você escolheu a Odontologia, que é uma profissão super renomada...

...Eu não escolhi na verdade.

...Não escolheu? Conta essa história para gente.

Na verdade, eu sempre quis fazer Medicina, mas quando eu fiz a inscrição para a bolsa de estudo para vir para cá, eles pediram para eu fazer uma outra escolha. E ela sugeriu para mim a Odonto. Aí eu “está bom, para mim tudo bem”. E aí escolhi.

Você veio na louca fazer Odonto?

Isso aí. Isso aí. Mas agora eu estou gostando. Estou gostando muito. Por que eu estou vendo uma outra área, sabe? Por muitas coisas...

Lados de dentro da boca?

É, isso aí... Porque muitas coisas que eu estou vendo agora, eu não sabia que tinha esse aspecto. Estou vendo como pode melhorar a vida das pessoas pela boca. Porque a boca é uma coisa muito importante, e muitas pessoas não prestam atenção para isso, mas quando você for fazer uma entrevista... o primeiro lugar para onde eles vão olhar? Para tua boca. Para ver como que é, todas essas coisas...

Para beijar também. Você é um cara namorador?

Sou. Mas eu... esse negócio de beijar não é muito...é, eu não gosto muito, muito, muito não.

Recentemente você teve um bordão, uma frase de efeito. Você disse que “a gente tem que se crescer”. O que isso significa?

É o seguinte: A gente mora em uma casa de estudante, mas tem muita gente aqui que não sabe como se comportar. Eles ainda estão se comportando como crianças. Isso traz um grande problema para a casa. Porque qualquer coisa que acontece eles não sabem resolver entre si. Eles têm que ficar fazendo “fofoco” na casa. Falando sobre os outros. Essa coisa não precisa não. Agora a gente está em uma fase da nossa vida em que a gente tá... algumas pessoas são quase casadas, outras estão quase tendo filhos. A gente está em uma fase em que temos que ter uma mente para pensar como adultos. E têm pessoas que não sabem fazer isso.

Você sabe um pouco de política, como está a Jamaica? O Obama esteve lá recentemente... o que você está sabendo sobre isso?

Da Jamaica exatamente? Não... porque faz dois anos e meio que não vou para a Jamaica. Eu não gosto de ver notícias.

Você não conversa com sua família lá?

Sim, mas sobre esse negócio de política, não. Quando eu estou conversando com minha família é sobre esse negócio de...

...Novela?

Não. De saudade, é mais sobre isso. Não sobre o que está acontecendo lá, não.

Você tem saudade?

Tenho, tenho. Mas agora eu cresci!

Negriela - Lucas de Oliveira Freitas

Estudante de Arquitetura e Urbanismo - UP

Entrevistado - Rashane Rohan Thomas

Estudante de Odontologia - UFPR

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