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  • João Davi Kluber

Gratidão, solidariedade, amor: CELU


Nas sociedades agropastoris antigas, que compunham boa parte do mundo até que a Revolução Industrial as transformasse drasticamente, era comum dar graças a Deus ou quaisquer outras divindades pela boa colheita por meio de celebrações e ritos específicos. O Thanksgiving, celebração tradicional norte-americana e europeia, teve início no século XVII, associando determinados acontecimentos naturais as bênçãos e por isso se festeja, agradecendo a Deus e celebrando em comunidade. Na sociedade capitalista contemporânea, porém, o verdadeiro sentido de gratidão é suplantado pelo rito do consumo. No afã e na obrigatoriedade de produzir e ser útil para o mercado, somos esmagados por metas e estresse e, por vezes, não vemos o quanto temos a agradecer.

Apesar disso, quatro dias antes da suposta data brasileira de Ação de Graças, em meio às turbulências dos cursos, preparações para provas e ocupações diárias, demos graças juntos. Na sala de TV, de frente para o Passeio Público, acompanhados do Pr. Walter Schenkel e por granizo, agradecemos pela CELU, pela vida, família, dificuldades, experiências, diferenças, e por conhecer a Deus. Dividir este tipo de momento, compartilhando nossas gratidões, nos coloca em condição de semelhança e proximidade muito interessantes – para não dizer gratificantes.

Viver na CELU é gratificante. É sacrificar-se, também; sacrificar a intimidade, por vezes, o tempo para si mesmo, o fim de semana em prol da limpeza para todos, das decisões que influem sobre todos, do bem comum... E dessa forma, alcançar crescimento pessoal, que eventualmente gera mais gratidão. A vida em qualquer grupo é assim. O sacrifício e a doação são necessários de pelo menos um dos lados para que sejamos gratos, e assim perfeitamente observamos na cruz de Cristo: graças damos por nos ter libertado e salvado em sua dolorosa paixão, e cúmplices nos tornamos.

São Tomás de Aquino hierarquiza em sua obra “Suma Teológica” supostos graus deste sentimento. Primeiramente, reconhecer o benefício; depois, dar graças pela sua espontaneidade, e, em seguida, ter o desejo de retribuí-lo. A etimologia, por sua vez, revela o português um idioma grato. Em um texto para a revista Língua Portuguesa, o professor da USP Luiz Jean Lauand considera que, pelo fato de expressarmos agradecimento com um “obrigado”, nossa língua é a única a contemplar a gratidão até mesmo em seu terceiro grau, originando o liame legítimo do dever – e do desejo – de retribuir. Agradecer é também essencial na vida em sociedade.

Por mais que na CELU na maioria das vezes não haja um clima de fraternidade, solidariedade e reconhecimento, há ocasiões em que o ambiente se turva por discordâncias ideológicas ou, menos ainda, por insignificâncias e intolerâncias cotidianas – sim, eventualmente todo aglomerado de pessoas aglomera incongruências teimosas. Apossar-se de coisas de outrem ou de uso comunitário, não cuidar do patrimônio comum, endurecer-se diante do sofrimento do outro ou ofender deliberadamente são atitudes que maculam a atmosfera de uma comunidade. Solidarizar-se requer empatia, previsão emocional de fatos e busca incessante de compreender. E compreender se torna difícil sem proximidade, sem diálogo e sem disposição.

A despeito do fato dos rituais de ação de graças ligarem-se à religiosidade, esboroando quando necessário a dureza de convicções religiosas, políticas e afins, podemos desfrutar bem de eventos como esse e, principalmente, demonstrando nossa gratidão no convívio com o próximo. Sendo o próximo o irmão celuense, se ele é religioso ou não, de esquerda ou de direita, se sabe ou não usar a máquina de lavar, se é mais metropolitano que arbóreo, se é de humanas ou de exatas, não importa: o que importa é a tentativa de unir-se, o bom dia, o obrigado, a sinuca, a partilha de arte e o transbordar do amor.

João Davi Kluber (Qto. 325)

Bacharelando em Piano - Embap

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